O projeto Nosso Diário é uma obra coletiva que tem como eixos condutores o estímulo à criatividade e o compartilhamento de ideias, desejos e experiências de vida entre pessoas de todas as regiões do Brasil.
Ele foi construído a partir da vivência pessoal e artística de sua idealizadora, Susana Prizendt, em um período profundamente desafiador de sua história.
Se você pode falar, você pode
cantar!
Se você pode andar, você pode
dançar!
Se você pode respirar, você pode
criar!
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“Esperar o vaga-lume piscar outra vez.”
“Ele tinha bigode já há onze anos e foi realmente uma tragédia.”
“Chegam algemados de dois em dois e desatados correm ávidos.”
“Era um setembro quase quente e estranhei ver-me tão de perto.”
“Converso com as pessoas em nossas próprias línguas – tirivó e kaxuyana.”
“Uma das pixações é uma homenagem de um rapaz para sua mãe, que foi assassinada pelo seu pai.”
“Se Deus quiser, neste novo ano serei a Mamãe Noel novamente.”
“Escolhemos o nome do filho, será Babatunde, o Pai voltou.”
“Ganhei um pote de plástico com comida e me sentei junto à calçada para encarar aquele “cai duro”.”
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Sobre a artista
Susana, o ser vivo que lançou a primeira semente para que esta obra fosse cultivada, nasceu na cidade de São Paulo, em 1974, sendo a filha primogênita de Ana e Benjamin e a irmã de Helena. Antes mesmo de aprender a escrever, pintou suas primeiras telas, e se descobriu encantada pela possibilidade de dar vida ao que não existiria sem que fosse desenhado ou pintado por alguém. Caminhou, então, do universo imaginado à expressão bidimensional e desta à criação tridimensional, decidindo – ainda na pré-adolescência – que seria arquiteta. Formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, já com várias obras arquitetônicas de sua autoria projetadas e construídas, após travar uma luta pela própria sobrevivência, em que escapou por muito pouco de encerrar sua passagem pelo nosso planetinha azul. E foi durante esse período dramático, que ela entrelaçou sua existência diária com um fluxo contínuo de expressão artística visual, para não ser levada pela correnteza e engolida pelas águas turbulentas. Nascia o embrião do Projeto Nosso Diário. Primeiramente, ele surgiu como uma forma de habitar algum espaço possível no mundo sem chão em que ela se encontrava. Através dele, ela passou a viver e registrar ao mesmo tempo suas realidades externa e interna, transformando-as em pequenas obras de arte: um diário visual. Feito com fragmentos de objetos do cotidiano – em uma mistura intuitiva de técnicas que brincavam com a superfície bidimensional das telas e a tridimensionalidade dos materiais escolhidos para que representassem ideias, sentimentos e vivências -, ele a acompanhou ininterruptamente, dia após dia. Vida e arte deixaram de ser esferas separadas e a VIDA-ARTE se fez presente com uma intensidade avassaladora, que gerou centenas de obras e permitiu encontrar um caminho de existência, onde parecia não existir nenhum.
Susana sobreviveu. Sua experiência com o processo gerou uma sensibilidade muito particular em relação a tudo que a cercava e o olhar para dentro despertou ainda mais o olhar para fora, o olhar para a outra, o olhar para o outro, o olhar para a coletividade. Assim, ela expandiu seu impulso artístico, irradiou essa força criadora para pessoas que viviam em outras condições ambientais, sociais, culturais, emocionais – mas que, como ela, formavam a grande teia coletiva da realidade do tempo presente e enfrentavam a inescapável missão de se constituir como sujeitos em um mundo em mutação perpétua e cada vez mais acelerada. O Projeto Nosso Diário recebia oficialmente seu nome e seu sobrenome – A Gestação de uma Identidade Social – passando a envolver centenas de pessoas em seu pulsar criativo.
Ao longo dos (muitos) anos de elaboração e materialização da obra comunitária – que emergiu do diálogo entre as artes visuais que ela compôs e as expressões verbais criadas por quem aceitou se envolver no projeto -, Susana seguiu projetando edifícios, pintando telas, criando instalações, desenvolvendo propostas culturais e sociais, arquitetando espaços físicos e imateriais, em que a participação ativa de outros seres humanos sempre foi um dos eixos condutores predominantes.
Exposições, publicações em revistas e jornais, co-criação de projetos que impulsionam transformações na estrutura injusta e excludente em que vivemos – foram muitas as aventuras, desde então.
Integrante de coletivos artísticos e de movimentos sociais – como Bichos do Mato; Banquetaço; Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida; Movimento Urbano de Agroecologia; Gente é Pra Brilhar, Não para Morrer de Fome, entre outros -, Susana acredita que, assim como a arte foi um elemento fundamental em sua sobrevivência, ela também pode nos ajudar a encontrar um novo modo de viver conjuntamente, em que cada ser – humano e não humano – tenha espaço para manifestar toda a potencialidade dada a ele pelo universo nesta aventura indescritível que é a VIDA.
É por isso que, hoje, mais do que uma arquiteta ou uma artista, ela se sente uma ARTIVISTA ou uma ARQUITETIVISTA, e segue se misturando na multidão de pessoas dispostas a dar vazão às possibilidades infinitas de criação de realidades mais potentes do que a que vivemos neste começo de segundo milênio tão cheio de contradições.
Ela deseja que as muitas miudezas que compõem estas obras verbo-visuais possam ser portadoras de sentido e tocar o que existe de grandioso em cada pessoa que com elas estabeleça contato.
O Livro
Texto de agradecimento
Para que este site ganhasse vida – graças às mãos criativas de Emily Otero, Gabriel Archanjo e Guilherme Borducchi – e o projeto gráfico do livro pudesse desabrochar – através da sensibilidade de Carolina Engetsu Lefèvre e Mariana Cotrim -, o Nosso Diário contou com a velha e boa vaquinha entre gente amiga. Pessoas muito queridas contribuíram, partilhando generosamente o dindin necessário ao processo técnico e à criação artística destas duas obras de arte que alçaram voo próprio, partindo do projeto inicial. A todos, a todas e a todes que somaram nesse gesto solidário, unindo bolso e coração, manifestamos nossos genuínos agradecimentos. Que venham novas aventuras!
Ana Flávia Badue, Ana Maria Salomão Prizendt, Angélica Magiolino, Artur Scarpato, Benjamin Prizendt, Betina Schmid, Cláudio Ottoni, Diego Blum, Fabiana Sanches Urbal, Flávia Damiani, Glenn Makuta, Gustavo Salomão, Marie Henry France, Marina Bellusci Lima, Marta Salomão, Paulo Salomão, Sam Hart, Susana Basualdo, Vanessa Salomão e Vera Vilela.